Entrevista: Candomblé "aqui é o meu lugar" com Giovanna Falugi
Como uma estudante de jornalismo estava pensando em
trazer entrevistas aqui para vocês, entrevistas que agreguem algo para vocês e
temas que vocês gostem. Porém, para a primeira entrevista decidi fazer algo diferente,
algo que enfrente preconceitos e barreiras para se expressar.
Giovanna tem 17 anos e mora na zona sul de São
Paulo. É homossexual e do candomblé. Por influencia da família conheceu e diz
que se apaixonou pela religião afro-africana. Ela nos conta as dificuldade que
enfrenta com os preconceitos e como se apaixonou pela religião.
maravilhosa, o som forte do atabaque
eu dizia pra mim mesma
- aqui é meu lugar - "
MEC:
Antes de tudo peço que explique o que é o candomblé?
GI: Candomblé é uma religião de matriz
africana na qual se cultuam os orixás, nós pregamos a preservação da natureza,
o respeito aos animais e aos humanos, independente de cor, gênero e sexualidade.
Leia mais sobre o candomblé aqui.
MEC: Como as mulheres são vistas na religião? Por exemplo,
na católica só quem pode fazer uma missa e o casamento é o padre, ou seja, quem
tem a voz é o homem.
GI: Como mencionado à cima não há diferenças entre homem e mulher no candomblé,
todos tem direito a voz dentro de um Ile Axé (casa de culto ao orixá). É fato
que no candomblé há tarefas de homem, e tarefas de mulher, mas dependendo da
situação tanto o homem quanto a mulher pode realizar uma tarefa.
MEC: E qual a diferença entre o Candomblé e Umbanda, já que
as pessoas tem tendência a confundir as duas?
Gi: A Umbanda é uma religião criada no Brasil. O Candomblé foi trazido pelos
negros escravizados, então por isso sua afro-brasilidade. Na umbanda, eles
cultuam apenas as entidades (pessoas que já viveram em terra, mas voltaram para
cumprir sua missão), como os Caboclos, Boiadeiros e etc. Já no candomblé são
somente cultuados os orixás. Há muitas diferenças, mas basicamente são essas.
" Dizem que a lei está do nosso lado,
mas a cada dia que passa é um caso novo
de intolerância religiosa."


MEC: Como você citou acima a religião não seleciona as
pessoas por raça, sexo e gênero. Mas o fato do homossexualismo, qual a opinião
da religião sobre isso. Por exemplo, nas escrituras sagradas usadas pelo
cristianismo é pecado e condenam ao inferno à pratica. E vocês?
GI: Nós não vemos diferença alguma se uma pessoa é hétero, homo ou bi. A nossa
religião faz o bem sem ver a quem. O que nos interessa é o interior, o
espiritual da pessoa. É por isso que o Candomblé abriga tantos homossexuais,
por que há quase zero de homofobia.
MEC: E como vocês lidam com o preconceito sobre a religião
de vocês?
GI: Olha Bia, infelizmente não há muito que se fazer. Dizem que a lei está do
nosso lado, mas a cada dia que passa é um caso novo de intolerância religiosa.
E não é apenas ofensa verbal como: "Ah, seus canetas, vocês vão pro
inferno", mas também a violência física!
Teve um caso que deu uma grande repercussão que foi de uma menina atingida com
uma pedra na cabeça por estar com as roupas ritualísticas do candomblé. E vi um
caso de um Babalorixá (pai de Santo) que foi assassinado e teve seu Ilê Axé todo depredados. Infelizmente os
culpados ainda não foram pegos, então ficamos impotentes, sem saber como agir e
recuados por medo de sofrer algo assim.
MEC: Como você conheceu o candomblé? E o que sente quando
está lá?
GI: Bom a minha mãe tem 30 anos dentro do candomblé, e como eu sou a caçula ela
sempre me levava junto (risos). Então praticamente todo o meu desenvolvimento
como pessoa foi lá. Ela nunca me obrigou a ir, ela sempre me disse que a
decisão seria minha. Conforme eu fui crescendo e sentindo aquela energia
maravilhosa, o som forte do atabaque eu dizia pra mim mesma "aqui é meu
lugar!". Anos se passaram, e recentemente tomei a decisão de me iniciar no candomblé e não me arrependo nem um pouco. Mesmo depois de 17 anos dentro do Ile Axé, parece que só agora eu me sinto uma candomblecista, me sentir parte de família do candomblé.


O preconceito faz com que nem paremos para ouvir o que o outro tem a dizer e o que o outro acredita. Respeito é a base para qualquer sociedade.
"Nós não vemos diferença alguma se uma pessoa é hétero, homo ou bi,
A nossa religião faz o bem sem ver a quem. O que nos interessa é o interior, o espiritual da pessoa."
A nossa religião faz o bem sem ver a quem. O que nos interessa é o interior, o espiritual da pessoa."
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